Certa vez, em uma conferência internacional, um psicanalista na plateia perguntou a Viktor Frankl:
- O senhor poderia nos resumir a Logoterapia em poucas palavras?
No que Frankl imediatamente devolveu:
- Posso, mas se antes o senhor puder me resumir a psicanálise em algumas palavras.
- Bem... Na psicanálise a pessoa deita em um divã e DIZ coisas muito difíceis de dizer - afirmou o analista.
Frankl concluiu:
- Na Logoterapia é parecido, com uma diferença: A pessoa senta em uma poltrona e OUVE coisas muito difíceis de ouvir.

Realmente, ele tem razão. Como é difícil ter de ouvir e reconhecer:

(1) Que a Vida tem um sentido incondicional e não adianta fugir dela, mesmo que forcemos isso, porque estamos "condenados", isto sim, a vivê-la da melhor maneira.

(2) Que quando dizemos: "minha vontade é sumir", estamos apenas sendo rebeldes, burlando leis imutáveis e adiando decisões importantes que devem ser tomadas com vistas à nossa felicidade.

(3) Que somos os únicos artífices do nosso destino. Que o cinzel e o martelo dos outros jamais desenharão no metal da nossa existência o formato que nos é próprio.

(4) Que estamos, na verdade, solitários e por nossa conta em relação a tudo que precisamos realizar por nós, assumindo passos, quedas e consequências. Que ninguém pode viver no centro que nossa alma habita

(5) Que ninguém pode tomar para si as escolhas que precisamos fazer, abraçando como mártir o que nos diz respeito cumprir.

(4) Que, apesar de tudo o que tenha ocorrido até então, não existe outra saída lúcida senão recomeçar e seguir já que o nosso passado - qual seja ele - é esfera sagrada que somente a nós pertence.

(5) Que diante da perda e do sofrimento o que se tem a fazer de melhor é encontrar um sentido valioso para ir adiante uma vez que a Vida é infinita em possibilidades.

(6) Que ficar parado na estrada sem inciativa não fará com que a Vida tenha pena e solucione os nossos problemas. Ou seja, que a estratégia da vitimização nunca funciona.

(7) Que a única medida saudável para vencer o medo de viver, amar ou sofrer é fazer as pazes com ele e ir - ainda que com ele - aonde tiver de ir. Que só o enfrentamento corajoso transcende o pavor.

(8) Que quando acreditamos que a vida está sendo injusta e somos incapazes de mudar e melhorar, isso ainda significa uma escolha nossa totalmente livre e não uma questão de que "não tem jeito mesmo" ou uma obra do destino.

(9) Que antes de pensar em ser feliz é preciso semear "a terra do sentido" para a felicidade. Que a paz no entorno é oriunda, antes, de uma vida pessoal pacífica.

(10) Enfim, como é difícil ouvir a realidade inegável de que só se recebe quando se dá; que pode acontecer, sem dúvida, de se amar sem ser amado; que é possível que uma dedicação honrosa nunca seja reconhecida; de que chorar, errar, doer fazem parte importante do caldo vital; de que é necessário estar pronto para sangrar, cicatrizar e ainda amar as cicatrizes; que no caminho a ser seguido pode ocorrer de nossa silhueta se apagar ao longe e os contornos desaparecerem aos olhos de quem gostaríamos não nos esquecesse... E com essa bagagem, prosseguir intimorato com os olhos no futuro.

Ouvir isso não é fácil! Mais difícil, certamente, é o Logoterapeuta saber que ao dizer isso para seus clientes, admite que, por ser humano e comum, não está indene a cada item citado acima e precisa viver a mesma experiência no palco da sua eternidade, dando forma à sua estrutura de viver, colocando um pouco de sorriso no drama e uma porção de lágrimas no dorso da comédia, misturando neles o fermento da fé e fazendo da Vida um monumento onde um pouco de tudo existe para celebrar a humildade com que se deve chegar a Deus... 

Que possamos VER e OUVIR com determinação os apelos que a Vida nos faz a fim de captarmos o sentido que nos cabe vivenciar.
 

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